Armazém das Oficinas inicia troca de plástico por folhas e fibras de bananeira nas embalagens dos hortifrútis orgânicos

Adotado em definitivo no sistema de assinatura de cestas orgânicas, programa busca atender clientes que optam por ações sustentáveis no dia a dia, reduzindo a emissão de resíduos sólidos.

Por Carlos Barbosa e Larissa Biondi

redução de embalagens plásticas
Agricutor/Oficineiro Michael William da Silva segura cenouras sem embalagem plástica: preservação e sustentabilidade
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Grupo trabalha em horta orgânica

O Armazém das Oficinas é a marca registrada de uma ONG de Campinas com 25 anos de atividade, que promove inclusão social e geração de renda a pessoas com transtornos mentais ou dependência química e não conseguem vagas no mercado formal de trabalho. Por meio de atividades em oficinas de trabalho artesanal, serviços de buffet, em um restaurante e na horta orgânica, 300 pessoas conseguem ter melhor qualidade de vida, com mais equilíbrio e assim exercem cidadania.

A horta do Armazém das Oficinas é administrada pela oficina agrícola e possui 7 hectares plantados, produzindo cerca de 300 Kg diários de alimentos orgânicos certificados pela OPAC (Organismo Participativo de Avaliação da Conformidade – entidade que regulamenta e fiscaliza as produções orgânicas de Campinas), comercializando os hortifrútis em vários supermercados da cidade, além de vender em sua loja própria, localizada no distrito de Sousas, Campinas. Alinhado com as tendências de consumo de clientes exigentes e conscientes de ações sustentáveis, o Armazém lançou recentemente o sistema de assinaturas de cestas orgânicas com entregas a domicílio.
Trabalhando de forma sustentável e visando reduzir a quantidade utilizada de plástico de uso único, o Armazém das Oficinas começou, no mês de julho, a embalar seus produtos orgânicos com folhas e fibras de bananeira, baseado em uma bem sucedida experiência Tailandesa. O método de embalagem, desenvolvido pela bióloga e voluntária Danila Torres da consultoria ecolha.bem, está sendo aplicado gradativamente. No entanto, são grandes os seus resultados em relação ao impacto ambiental positivo.

COMO TUDO COMEÇOU

No Armazém das Oficinas, a iniciativa de diminuir a quantidade de plástico utilizado e, dessa forma, contribuir com o equilíbrio ambiental e reduzir o impacto ambiental negativo, se deu dentro da própria instituição. De acordo com Hariana Monteiro, auxiliar administrativa da Oficina Agrícola, o conhecimento sobre as embalagens de folhas de bananeira se deu por meio da divulgação em redes sociais de uma rede de supermercados da Tailândia e logo impulsionou os agricultores / oficineiros do Armazém a aderirem ao método. “Eu já cheguei testando. Só que, até então, a gente não sabia como fazer. A nossa folha de bananeira rachava e as únicas coisas que a gente conseguiu embalar, foi o cheiro verde e a couve, que daí era só uma tirinha e amarrávamos em unidades”, conta Hariana.
TESTES DE EMBALAGENS ORGÂNICAS

Foi com a chegada de Danila Torres, bióloga e voluntária, que o uso das folhas como embalagem se tornou possível: “eu comecei como cliente e aí eu mandei uma mensagem pra Hari perguntando se tinha alguma forma de reduzir os plásticos, […] como eu trabalho com resíduo, aí com algumas coisas eu podia contribuir”. No método de Danila, as folhas passam por um processo de manipulação e, em seguida, de higienização. Depois dessas etapas, elas estão prontas para serem utilizadas como embalagens.

impacto social positivo

As primeiras tentativas com embalagens de folhas e fibras de bananeira ocorreram em maio desta ano e os testes sob a supervisão de Danila ocorreram em Junho, ocasião que a técnica foi demonstrada e testada pela primeira vez na oficina agrícola. Após alguns estudos visando a utilização sustentável da matéria-prima, foi definido que a adoção deste tipo de embalagem se daria aos poucos, para, também, ter a assimilação da técnica pelos agricultores / oficineiros. Embora as embalagens de folhas e fibras de bananeira estejam substituindo as de plástico de uso único aos poucos, de forma gradativa, o impacto da substituição de uma porção das sacolas plásticas já é significativo.

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Cheiro verde orgânico embalado em folha de bananeira
embalagem de folha de bananeira
versão definitiva da embalagem sustentável: aprendizado

Ao reduzir, já, mais de mil sacolinhas, como afirma Danila, a ideia é que, em um ano, ocorra a eliminação de mais de 10 mil unidades. Outro resultado relevante é que hoje, a cesta de orgânicos é 100% plástico zero. Nenhum dos produtos é embalado em sacolas, que era uma prática normal até junho deste ano.
O início do programa vai além da redução de resíduos e conta, também, com a ação social da instituição. Com a participação direta dos agricultores/oficineiros, todo o processo de coleta das folhas e fibras — que ocorre no local — não gera nenhum tipo de poluição: “a gente consegue gerar um impacto positivo muito grande, porque tudo é feito aqui dentro. Primeiro que tem a questão da parte social, do trabalho social que eles desenvolvem aqui. Segundo que a gente não tem pegada de carbono nenhuma, porque a gente faz tudo a pé aqui […] a gente fez uma varredura com as bananeiras que temos e escolhemos os pontos de coleta. Os meninos pegam as folhas e o caule para a extração das fibras e nós fazemos o processamento com vistas a, depois desse processamento, escalonar e os oficineiros fazerem depois”.

O desejo de reduzir a quantidade de resíduos plásticos não se limita às embalagens oriundas da bananeira. O Armazém das Oficinas, junto com o apoio de Danila, também pretende confeccionar embalagens de papel reciclado para produtos como tomate, quiabo e limão. “A gente está estudando outros materiais, como uma caixinha de papel reciclado para atender a outros produtos. Esta iniciativa vem da Escolha Bem, empresa de Danila, que atua com design de embalagens. Ambas as ações — confecção das embalagens de bananeira e de papel reciclado — seguem o princípio de não geração.
Na legislação brasileira, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305 de 2010) dispõe diretrizes para que haja um melhor gerenciamento desses resíduos, defendendo, como prioridade, a não geração. “A não geração é a primeira coisa que a gente tem que fazer. E isso é uma ordem legal, uma prerrogativa da legislação: não geração. E a gente tá atendendo e obedecendo a esse princípio de forma exemplar” defende a bióloga.

embalagens sustentáveis
Armazém das Oficinas já estuda outras formas de embalar os produtos orgânicos: sustentabilidade e não geração

Os impactos negativos do plástico e o passivo ambiental

O passivo ambiental é todo o impacto ambiental negativo causado por atividades comerciais e está diretamente ligado ao descarte indevido de resíduos sólidos, como o plástico. Demorando centenas de anos para ser degradado na natureza, o plástico vem sendo, de umas décadas para cá, um dos principais poluentes ambientais. De acordo com a Fundação Ellen MacArthur, em 1964, a produção de plástico no mundo equivalia a cerca de 15 milhões de toneladas. Em 2014, a produção chegou a 311 milhões de toneladas. Ainda falando sobre números, apenas 14% desse plástico produzido é coletado para ser reciclado. Atualmente, cerca de 95% do valor das embalagens plásticas, correspondentes de 80 a 120 bilhões de dólares por ano, é perdida depois de seu primeiro e único.
Poluição por plástico: dados são preocupantes
embalagem plastica descartada
Descarte incorreto ameaça vida na Terra e no Mar
Segundo um relatório feito em 2019 pela WWF (World Wide Fund for Nature), de todo plástico produzido, mais de 75% dele já virou lixo. O mau gerenciamento dos resíduos fez com que, aproximadamente, um terço deles tenha sido inserido na natureza, poluindo o solo e ambientes de água doce e salgada. Em seu processo de degradação, o plástico se torna um microplástico e, posteriormente, nanoplástico. Nesse contexto, ele não sai completamente da natureza. A contaminação por nanoplástico afeta não só o solo e as águas, como também os seres humanos e outras espécies de animais, que o ingerem a partir dos alimentos e da águaNo mês de julho, o planeta Terra atingiu o esgotamento de todos os seus recursos naturais renováveis. Recursos como petróleo – essencial para a fabricação do plástico -, água, minerais e da agropecuária estão com um crédito negativo, consequência do padrão de consumo atual. A produção dos plásticos não só requer a extração de petróleo, como também emite o dióxido de carbono.

Junto da incineração dos resíduos, ocorre a contribuição, portanto, com o desequilíbrio do efeito estufa, gerando mudanças climáticas. De acordo com a WWF, anualmente, a produção do plástico consome 4% da demanda de óleo e gás. Além da contribuição com o aquecimento global, a queima dos plásticos também afeta comunidades locais a partir de seus poluentes atmosféricos.

Sobre a Oficina Agrícola do Armazém das Oficinas

A horta orgânica é cultivada desde 1999 e abriga cerca de 30 agricultores que trabalham em um sistema baseado no cooperativismo. São pessoas que possuem algum tipo de transtorno mental ou dependência química e não encontram vagas no mercado formal de trabalho. Ao realizarem as atividades no campo associadas ao tratamento terapêutico, conseguem ter melhor qualidade de vida, reduzindo crises. O trabalho na oficina gera renda e com isso, os agricultores / oficineiros conseguem ter dignidade, sendo incluídos socialmente e exercendo cidadania. A horta possui 7 hectares plantados sem a utilização de defensivos agrícolas químicos, adubos industrializados e sem a utilização de sementes transgênicas. Os profissionais que administram o projeto Armazém das Oficinas já realizaram estudos para aumentar a area de cultivo, chegando a 12 hectares plantados, promovendo a inclusão de mais 15 agricultores / oficineiros no período de um ano.

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Oficina abriga 30 agricultores / oficineiros

Para saber mais sobre as questões ambientais e o consumo mundial de plástico, acesse:

1 Fundo Mundial para a Natureza; WWF. Solucionar A Poluição Plástica: Transparência e Responsabilização. 2019. Disponível em:
https://d335luupugsy2.cloudfront.net/cms/files/51804/1551713488PLASTIC_REPORT_02-2019_Portugues_FINAL.pdf

2 World Economic Forum, The New Plastics Economy Rethinking the future of plastics. 2016. disponível em:
http://www.europarl.europa.eu/news/en/press-room/20181018IPR16524/plastic-oceans-meps-back-eu-ban-on-throwaway-plastics-by-2021

3 Ellen MacArthur Foundation. The New Plastics Economy: Rethinking the future of plastics. 2016 Disponível em:
https://www.ellenmacarthurfoundation.org/publications/the-new-plastics-economy-rethinking-the-future-of-plastics

Fotos por:
Carlos Barbosa
Danila Torres e
<a href=”https://br.freepik.com/fotos-vetores-gratis/agua”>Água foto criado por jcomp – br.freepik.com</a>

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